Já faz um tempo que venho pensando (e muito) nestes espaços “disponíveis” para receber trabalhos. Meu incômodo começa quando não quero fazer arte somente para artistas. Explico. De modo geral os trabalhos que aprecio têm um posicionamento político muito claro, o que acaba nos custando caro (valeu o trocadilho): caro tanto para os artistas quanto para o estado que não quer dar protagonismo à comunidade negra, indígena, LGBT e feminista dentro destes espaços destinados a arte (no próximo post vou falar um pouco mais sobre isso). Entendo arte politicamente para não cair no conto de fadas da galeria cheia de ninguém e que atende uma demanda apenas da classe artística. Por isso, penso que precisamos estar nas ruas.

Neste ano fui convidada para fazer minha primeira curadoria, a convite do Bar do Fidel. Esse espaço empresta o muro do vizinho da frente, que recebe o nome de Galeria Sem Licença, para colar lambes. Na edição do mês de maio, preenchemos as paredes com trabalhos de mulheres negras, trabalhos feitos por nós e para nós. Fiquei muito emocionada ao ver o protagonismo de todas aquelas mulheres incríveis na rua, comunicando sua existência a todos que passavam por ali. Cerca de três semanas depois, por um acaso do destino ou não, a imagem de Desapropriam-me de mim foi pixada. Na minha cabeça, a única palavra que veio foi: RESISTÊNCIA.

Na semana passada Carolina Cerqueira, formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Juiz de Fora, veio conversar comigo sobre meu relato com relação à Galeria Sem Licença. Ela é responsável pela colagem de lambes com ilustrações e frases de mulheres negras assinados pelo coletivo Lambe Mais, Oprime Menos. Formado por mulheres, esse coletivo faz denúncias de casos de machismo, opressão e racismo, com muita sensibilidade e força. A conversa com ela me fez afirmar, mais uma vez, nossa existência, pois lá em sua cidade não é diferente: é comum que os lambes sejam arrancados em alguns lugares. Mas, como ela mesma diz: “se incomoda, vou insistir”, ou seja, se “rasgarem, eu colo de novo”.

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One thought on “Lambe mais, oprime menos

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