Texto recebido carinhosamente de Edileny Tomé da Mata.

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Relatos sobre o Projeto Desapropriam-me de mim

As condições sociais e culturais de inferioridade, subordinação e superioridade não são naturais, são construtos sociais e culturais.

Diz-se que a posição ocupada por um indivíduo, numa sociedade determinada, marca a sua disposição ou predisposição para fazer ou não fazer algo.

Neste sentido — e relacionando os dois primeiros parágrafos —, a condição de subordinação, inferioridade e negação do Homem Negro e da Mulher Negra foi construída por aqueles que ocupavam um espaço de poder, um espaço privilegiado que lhes permitiam legitimar e naturalizar as condições de inferioridade, subordinação e superioridade. Esse Ser poderia ser Branco ou Negro.

Durante todo o processo histórico, os Negros e as Negras, escravos e escravas, foram reduzidos a coisas ou objetos, seja nas fotografias, exposições, relatos literários, seja em outros meios. Essa coisificação serviu para retirar-lhes a condição de Ser Humano e assim legitimar a escravidão, a colonização e outras violências culturais e estruturais cometidas. O projeto Desapropriam-me de mim é a mostra desse fato: desapropriaram aos negros e às negras, escravos e escravas, do que eram: Seres Humanos e pessoas com uma identidade e uma cultura.

Esse processo histórico de coisificação e redução do Humano ao “Néant” (FANON, 1962), fez com que nós, os descendentes dessa estirpe, precisássemos parecer como Branco ou “Negro poderoso” para nos sentirmos e sermos Seres Humanos. Quer dizer, negamos e fugimos da nossa condição e identidade de Negro ou Negra na pretensão de sermos iguais ao Branco ou ao Negro poderoso, como forma de sermos aceitos na sociedade.

O trabalho da Miriane significa muita coisa. Primeiro, é um projeto de reparação histórica pois humaniza às mulheres desumanizadas. Segundo, é um projeto de revitalização de identidade negra, pois, ao humanizar às mulheres, faz com que nós, procedentes do seu ventre, nos percebamos como parte dessa identidade negra. E, terceiro e último, é uma reivindicação pessoal que tem uma extensão comunitária, uma reivindicação do Negro e da Negra no Sul do Brasil, local em que não somente se nega a existência, como também se tentou extinguir habitantes negros com o processo de branqueamento.

O trabalho da Miriane, em definitiva, é mais uma contribuição na mudança de narrativas sobre a condição humana dos negros e das negras, escravos e escravas. Por isso, gostaria de parabenizar à Miriane pelo trabalho.

Edileny Tomé da Mata, nacional de São Tomé e Príncipe, Doutor CUM LAUDE com menção europeia pela Universidade Pablo de Olavide (Espanha) e estagio post doutoral CAPES/PNPD na Unibrasil (Brasil). Vocal do Instituto Joaquin Herrera Flores e pesquisador GISAP-UPO.

Sevilha, 25 de abril de 2016.

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