Quando a Miri me cedeu esse espaço e sugeriu uma lista de temas que eu poderia abordar, na hora meu coração se encheu de alegria e já saiu escolhendo aquele ser que mais me atravessa de tempos em tempos: a cantora Elza Soares.

Ser uma força da natureza em forma de pessoa pode incomodar muita gente. No caso da Elza Soares, ser uma força da natureza, mulher, negra e cheia de cicatrizes pelo corpo, o incômodo pode ganhar outros contornos: racismo, ódio à mulher que foi casada com Garrincha (como se isso a definisse), que canta imitando trombone (norte-americanas podem, brasileiras não… aham), que fez inúmeras cirurgias plásticas (como se o corpo dela fosse algo público, portanto, passível da opinião desses incautos).

Mas uma força da natureza não é para passar despercebida mesmo. E ainda bem que ela não cessa seu potencial! Foi com seu último e premiado disco lançado – A mulher do fim do mundo (2015) – que Elza, enfim, pode cantar, até o fim, sem estereótipos que a diminuíssem. Empoderada de sua cor, de seu gênero, de sua voz, das suas cicatrizes, ela performa e ressignifica em seu corpo todas as letras do disco, em passagens geniais. “Coração” e “Mulher do fim do mundo eu sou e vou até o fim cantar”, traduzindo muito da realidade de ser mulher no Brasil (e no mundo). “E o que me fez morrer vai me fazer voltar”: sua existência em dança. Seja na pancada inteira que é “Maria da Vila Matilde” ou na delícia que é cantar junto com ela as faixas “Pra fuder” – uma ode máxima aos prazeres de habitar um corpo –, e “Solto” – uma ode mínima à liberdade de sair do próprio corpo, o disco é uma travessia, dela e de quem a ouve.

Minha dica é: sintam-se atravessados pelo corpo de Elza incorporados em sua voz visceral!

Ouça o disco inteiro aqui:

 

Texto de Luciane Alves: cantora brasa de braseiro, revisora e amiga canceriana <3

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