Conheci o trabalho de Ayrson quando ainda estava ensaiando pelo mundo das artes. Uma das maiores felicidades que tive nesta vida foi expor a seu lado em Corpo Imagem nos Terreiros, que teve curadoria de Denise Camargo.
Meu encantamento com a performance Borí foi imediata. Mesmo não sabendo na época o que significava este rito tão importante dentro do Candomblé, aquela imensidade de comida disposta na cabeça das pessoas tinha uma profundidade que somente hoje consigo entender: na época já estava pesquisando para o Tudo o que a boca come. Borí em culto é dar de comer à cabeça, um rito todo filho de santo terá que passar, vez ou outra, mesmo já tenha sido feito no santo há 50 anos.

Além disso, foi por meio de uma outra performance que Ayrson, mesmo sem querer, me fez entender o tempo ancestral, o tempo do rito e o tempo em que vivemos. Detalhe, essa performance ocorreu em frente à Boca Maldita, iluminada sob uma fogueira de Xangô em plena XV de Novembro, aqui em Curitiba.

Os trabalhos de Ayrson nos deslocam de um modo respeitoso para nossa ancestralidade dentro do asè. Sem violar os “votos” de segredo, ele consegue criar narrativas performáticas encantadoras.

 

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