O primeiro texto que fiz aqui para o Desapropriam-me foi sobre a Elza Soares e sua carne vocal atravessando nossos corpos. Associei esse encontro a outra mulher fantástica, cantora com voz cheia de carne negra. Hoje vou falar um pouco sobre a fortaleza que é Juçara Marçal.

Na ativa como cantora há pelo menos 20 ano, Juçara também é pesquisadora de arte popular, desde quando fazia parte do grupo projeto A Barca, até mais recentemente com Kiko Dinucci e as composições que conversam com a tradição afro-brasileira, no Metá Metá.

Com Encarnado (2014), ela vai além. Num trabalho que mostra o depois da carne, a morte faz ronda por todo o disco. Essa finitude, porém, é cantada por Juçara como possibilidade de desencarnar e reencarnar num corpo novo. O álbum vem com uma arte gráfica que complementar as faixas: um corpo feminino com um tecido cobrindo o rosto dessa mulher, num desapropriar-se desse sujeito cujo corpo é o que de fato resta. Sua voz emudece e renasce em meio a arranjos carregados de interferências, mostrando o lado sujo de virar e renascer das cinzas.

Ouça o disco aqui:

 

(Texto: Luciane Alves)

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