Carolina Maria de Jesus é um desses nomes que ultimamente vem aparecendo com frequência no meu feed de notícias. Qual não foi minha surpresa do porquê: negra, pobre, catadora de lixo e empregada doméstica, essa mineira conseguiu alguma visibilidade graças à releitura de sua obra literária. “Quarto de Despejo” é seu livro mais conhecido, discutido e traduzido (para mais de dez idiomas!). Esse reconhecimento não é por acaso. Carolina escreveu boa parte de sua obra em cadernos velhos catados por ela no lixo. Neles ela relata, com sensibilidade, boa parte do seu cotidiano como empregada doméstica, toda a intolerância vivida por ser negra e pobre, num lirismo único. Escrito na década de 1960, o livro é um belo retrato das relações sociais brasileiras que ainda persistem, infelizmente, em 2016.

Sua obra ainda inclui contos, poemas e relatos pessoais: um traço de resistência que vislumbra alguma beleza da vida, em meio a tanta desigualdade. Com seus escritos, Carolina dá voz à sua existência e, de quebra, retrata tantas outras mulheres negras e pobres, esquecidas pela história.

Mas sua voz ecoa! Graças à existência de projetos que tem o arte negra como foco. Contemplado pelo Edital Prêmio Funarte de Arte Negra, o site “Vida por escrito”, de Sérgio Barcellos, divulga a vida e a obra dessa escritora fundamental.

 

(Texto de Luciane Alves)

 

 

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